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eu não sei. eu não sei. e se eu não tiver respostas?

“e agora, o que vais fazer da tua vida, laura?”

sim, eu já me culpei com insónias de olhões abertos e inchados com a porta da alma encravada e perra sem querer abrir, por pensar que havia algo de louco comigo por não saber.
estaria eu a forçar a todo o custo e até a enfiar a chave errada?
mas eu tinha de saber claro, como todo o humano controlado que sabe as respostas todas, que acorda à mesma hora, toma banho à mesma hora, almoça à mesma hora, veste o pijama à mesma hora, com toda a santa sábia rotina morta de profundidade e desprovida de emoção, como se a vida tivesse o mesmo relógio quadrado a pilhas , tik tak, morto, adormecido, enfadonho, sem surpresas nem um pouquinho de originalidade e magia. valha-me deus,
já somos robôs e ninguém me avisou?
mas eu sei lá o que me vai apetecer amanhã depois do pequeno-almoço, nem sei a que horas vou tomar o pequeno almoço, sequer se me vai apetecer tomá-lo.
o que é um pequeno almoço? um almoço mais pequeno? charme agora é um brunch. mas eu não sei se quero.
eu nem sequer sei se isto tudo não é um sonho acordado meio adormecido.e se nada disto existir mesmo?
e se o amanhã não houver? aí, o que vamos fazer? que planos temos?
mania de inventarem que temos de saber tudo, planear tudo, saber onde vamos, o que queremos, os projetos de vida daqui a 5, 8, 10 anos… que aborrecido, não tinham mais nada para fazer? (porque não vão antes contemplar o céu estrelado à noite?só uma ideia alternativa bem natural)
como se a vida fosse um almanaque de promessas artificiais fabricadas, que nem o senhor do tempo agora acerta na meteorologia nem as bananas da madeira chegam a tempo de estarem maduras.
eu não sei.
eu não sei.
eu não sei.
eu não sei o que quero agora, e nem sei se sei o que quero amanhã, eu não sei o que vou fazer, eu nem sei o que vou ser, às vezes nem sei o que sinto, se é alegria, tristeza, excitação, melancolia, paixão, medo, pavor, raiva, entusiasmo ou dor.
ou apenas um turbilhão de macacos na minha mente a saltar de galho em galho, agora livres como são, já expulsos do jardim zoológico por mau comportamento e falta de integridade ( mas graças a deus ,soltem os bichos presos, com memória a s.judas tadeu que fez tantos milagres) e então?
vão me prender na jaula se eu não souber o que quero?
deixem-me não saber senhores, a intensidade da vida de não saber nada, a ignorância de viver sem saber, a liberdade de ir na maré, mesmo que leve com uma onda gigante e rebole perdida, engolida por espuma de fluir até à margem, com conchas nos ouvidos de entrega e areia na testa de viver um momento de cada vez.
mas que viva.
mesmo sem planos nem planeamento, nem mapas, nem incertas vontades, que a melhor vida vivida não tem gps.
senhores, deixem-me viver com a verdade que simplesmente eu não sei.
…e vais a ver, tinhas uma maçã no bolso, e andavas à procura de uma outra lá fora.
escrevendo a minha história
laura alves